Passage Jouffroy, Fresque des Folie Bergère, Salle des chercheurs de la Fondation Jérôme Seydoux-Pathé.
Paris através três séculos
SECULO XIX
Passagens cobertas de Paris
Eu gostaria de invocar o século XIX através das passagens cobertas de Paris. Este século foi um dos períodos mais emblemático de Paris até os dias de hoje. O que foi realizado no século XIX transformou Paris no que ela é hoje, uma cidade admirada no mundo todo.
A maioria dos visitantes veem ver a Paris “de la Belle Époque”, a cidade das grandes exposições universais, um período de muita inovação, criação e abundancia.
As passagens cobertas foram introduzidas na cidade no final do século XVIII, nos arredores dos Grands Boulevards. Estas formas urbanas especificas conectavam, através dos centros dos blocos construídos (des patês de maison), o setor da Comédie Française até a rue de Provence, à Leste do setor que hoje conta com lojas de departamentos importantes como as Galeries Lafayette et o Printemps.
Estas vielas cobertas serviam à grande burguesia parisiense, que preferia fazer suas compras (o seu shopping) protegida da chuva e do frio: boutiques, livrarias, antiguidades, restaurantes, hotéis, museus, tudo o que uma cidade próspera poderia propor na época.
As passagens cobertas são uma forma comercial precursora das galerias comerciais e dos shopping centers, apesar de não terem tido muito sucesso, nem comercial, nem econômico, pois os fluxos eram muito reduzidos.
Se as passagens cobertas propõem, ainda hoje, um ambiente tipicamente parisiense e histórico, comercialmente, ainda é complexo fazer funcionar boutiques e lojas nestes lugares, pois os fluxos ainda são reduzidos e falta o que se pode chamar de “locomotiva comercial”. Zaha ou Decathlon são exemplos típicos de locomotivas, um tipo de comércio que atrai os clientes (comércio de destinação) que depois visitam as outras lojas, por efeito quase mecânico.
Existiram ao todo mais ou menos 30 passagens cobertas em Paris. Hoje, 26 delas estão em atividade e são abertas ao público. A passagem do Havre, por exemplo, próxima da Gare Saint-Lazare, se transformou em galeria comercial.
Eu termino esta pequena visita pela Passage Jouffroy, no 9ème arrondissement de Paris (arredores da estação de metrô Grand Boulevards), um espaço criado em 1845. Pois, é onde se instalou a boutique Brésilophile, que vende pedras e minerais do Brasil e onde eu venho de tempos em tempos comprar cristais para realizar minhas joias.
SECULO XX
Les Folies Bergère
Les Folies Bergère é um dos mais emblemáticos prédios Art Déco de Paris.
Vamos tratar das diferenças entre Art Nouveau e Art déco?
O período durante o qual se desenvolveu a Art Nouveau se situa aproximadamente entre o fim do século XIX e o começo do século XX, até a primeira Grande Guerra.
Art Nouveau. Esta corrente artística reintroduziu a natureza como modelo para as artes e a arquitetura, numa época de grande desenvolvimento industrial, “racionalizante” e desumanizador.
Na França, este período é conhecido como “la Belle Époque”, que foi precedentemente mencionada neste texto, e que teve seu paralelo em vários outros países da Europa, como a Inglaterra (Arts & Crafts), a Alemanha e a Áustria (Jugendstil) e a Espanha (Arte Joven). Pode-se citar alguns belos exemplos de realização deste período, em Paris, como as estações de metrô concebidas pelo arquiteto Hector Guimard e os cartazes de Mucha.
Art Déco, por outro lado, é um conjunto de produções artísticas que apareceu entre as duas Grandes Guerras mundiais, a partir dos anos 20, e se caracteriza pelo retorno a um desenho preciso, à ordem, à razão, à geometria e à simetria. Ela celebra o progresso, a tecnologia e a mundialização, exatamente como contraponto do Art Nouveau.
Como exemplos de realização desta época, podemos citar o Palais de Chaillot, que enquadra uma das mais belas vistas da Tour Eiffel, e que a jornalista Ana Paula Cardoso menciona no programa da SBT “De malas prontas”, mas também a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, obra do escultor Francês Paul Landowski.
A mundialização abriu caminho ao exotismo, numa cultura Europeia sacudida pela guerra.
Isso permitiu, por exemplo, a consagração em Paris da artista e dançarina americana Josephine Baker, na sala de espetáculos Les Folies Bergère, também situada próxima aos Grands Boulevards, que nós vamos descobrir juntos.
Les Folies Bergère é a primeira sala dita de “Music-Hall” de Paris, onde eram produzidos espetáculos musicais ao vivo. Ela foi criada no século XIX.
A partir de 1926, Josephine Baker, que citei antes, estava em cartaz com o espetáculo “Perle Noire” (Pérola Negra) e obteve um grande sucesso.
Em paralelo, a direção decidiu renovar inteiramente o prédio, sem cessar a atividade, dando a forma atual Art Déco ao prédio. A obra foi principalmente pré-fabricada em atelier e a fachada, obra do artista Maurice Picaud, foi realizada atrás da antiga fachada existente, que foi em seguida demolida, dando luz à fachada Art Déco atual.
Em 2012, o prédio passou por uma renovação leve e o afresco exterior foi renovado.
Para preparar e otimizar a instalação das folhas de ouro que recobrem o afresco, foi feito um levantamento tridimensional a partir da técnica dita de “Nuage de points” (Nuvem de pontos, um scanner laser 3D).
SECULO XXI
A Fundaçao Jérôme Seydoux-Pathé
Destinada à história do cinema, esta fundação foi instalada próxima à Place d’Italie, no 13ème arrondissement de Paris, é, na minha opinião, uma das últimas belas obras de arquitetura de Paris.
E obra do arquiteto italiano instalado em Paris Renzo Piano e foi inaugurada em 2014. Este arquiteto realizou também em Paris o Centre Georges Pompidou (de 1977) e o novo Palácio da Justiça de Paris (de 2020).
O prédio da Fundação Jérôme Seydoux-Pathé foi instalado dentro de um antigo teatro, no centro de um quarteirão. Foram exigidas muitas medidas construtivas e projetuais para que este equipamento cultural possa se instalar neste terreno exíguo sem incomodar a vida dos moradores dos prédios vizinhos. Foi realmente um exercício delicado de arquitetura e uma marca de respeito à fachada esculpida por Auguste Rodin em 1869.
Nos últimos dois níveis, foi realizado um atrium envidraçado formando cobertura. Se trata do espaço destinado à direção da fundação e também aos pesquisadores. Este espaço é, de tempos em tempos, aberto ao público durante os dias Nacionais do Patrimônio (que está programado neste ano de 2022 para os dias 17 e 18 de setembro).
Como vocês talvez já saibam, a França foi precursora na criação do cinema.
Esta fundação tem por objetivo concentrar um importante arquivo sobre a história do cinema, destinada à pesquisadores, realizar projeções de filmes míticos do cinema mudo de todos os tempos e expor equipamentos que fizeram a história técnica do cinema, como câmeras e cinematógrafos.
Este foi um pequeno passeio, no tempo e no espaço, que propus a você, que está agora longe e que gostaria de passear
Ingrid de Rio Campo, Abril de 2022.
Galerie Vivienne, 2016 ; Les Folies Bergère, 2017 ; Fondation Jérôme Seydoux-Pathé.